11 de junho de 2013

Não deixo rolar!

Martha Medeiros escreveu um dia sobre "deixar rolar" e eu tô com ela nessa fortemente:

"Li uma entrevista com o escritor e jornalista português Vasco Valente, onde ele afirma que passamos a vida tentando conter a tendência para a desordem. Se ficássemos passivos diante da vida, sem mexer um dedo para nada, um belo dia acordaríamos falidos, com a energia elétrica cortada e um monte de gente magoada a nossa volta.
Conclui ele: "O que cada um de nós tenta fazer, cada um à sua maneira, é tentar conter o descalabro".
A visão dele é meio apocalíptica - desordem, descalabro! -, mas, relativizando o exagero, é bem assim mesmo: passamos a vida tentando organizar o caos. Trabalhamos para ter dinheiro, respeitamos as leis, usamos o telefone para manter laços com a família e procuramos amar uma única pessoa para sossegar as aflições do coração, sempre tão inquieto. E mesmo fazendo tudo certo, e mesmo correndo contra o relógio e contribuindo para o bem-estar geral, às vezes dá tudo errado. É quando surge alguém não sei de onde, percebe o nosso stress e dá aquele conselho-curinga que serve para todas as ocasiões: deixa rolar.
Sempre que eu deixei rolar, não aconteceu nada.
Nada de positivo ou negativo. Nada. De vez em quando eu até deixo rolar, mas só para obter um breve momento de descanso em que parece que saí de férias da vida.
É uma auto-hipnose: estou dormindo, não estou aqui, não estou vendo coisa alguma. Quando a desordem e o descalabro voltam a ameaçar, eu conto um, dois, três, estalo os dedos e a engrenagem volta a funcionar de novo.
Deixar rolar é um conselho que não consigo seguir por mais de uma tarde. Tenho esta mania estúpida de querer participar de tudo o que me acontece. Se eu me dei bem, a responsabilidade é minha, e se me dei mal, é minha também. Não entrego nada a Deus. Não uso nem serviço de motoboy. Eu mesma respondo aos e-mails, atendo os telefonemas, eu mesma cobro, eu mesma pago. Delego pouco, e apenas pra gente em quem confio às cegas. Nunca pra este tal de destino, que não conheço.
Só entro em estado de passividade quando não depende mais de mim. E só deixo rolar aquilo que não me interessa mais. O problema é que tudo me interessa."

É isso, não consigo deixar rolar, quero tudo pra agora. Quero resolver meus descasos agora. Pra que dar 'tempo ao tempo'? Pra que perder tempo? Não, gente, não dá.

Martha disse também:

"(...)Tem gente que perde um grande amor. Perde mais de um, até. E perde filhos, pais e irmãos. Tem gente que perde a chance de mudar de vida. E há os que perdem tempo.
Os anos passam cada vez mais corridos, os aniversários se repetem.
(...) E no entanto ainda estamos de pé, porque não ficamos apenas contando os meses e os anos em que tudo se passou. Construímos outras torres no lugar. Não ficamos velando eternamente os atentados contra nossa pureza original. As novas torres que erguemos dentro serão sempre homenagens póstumas às nossas pequenas mortes e uma prova de confiança em nossas futuras glórias."

Obrigada, Martha, por não me deixar sozinha no mundo com esses mesmo pensamentos.

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