25 de julho de 2011

Carta ao vazio!


Oi Pai,

Eu sei que você não me conheceu e faltava pouquinho pra me pegar no colo e me sentir e sentir meu coraçãozinho bater né? Faltava só 23 dias .. Pq não deu pra aguentar só mais 23 dias preu te sentir também? Pq?
Pelo menos eu não ia ter esse vazio que me consome todos os dias (eu acho).
Sabe, eu uso o número 23 como meu número 'da sorte'.

Eu só vim aqui escrever tudo aquilo que a gente já conversou e conversa todos os dias, ou pelo menos nos dias que eu não adormeço falando.
O que mais me machuca nisso tudo são os 'e se', e se você ainda estivesse aqui? E se .. e se .. e se ..
Será que tudo seria diferente mesmo?
Será que minha mãe não teria tentado esconder a dor dela fazendo outros filhos? Sim, 6 filhos ..
É, minha mãe, aquela que você jurou na saúde e na doença até que a morte os separou. Sinto que ela nunca mais foi a mesma assim como eu não sou de uns anos pra cá.
Até uns anos atrás eu tava perdida nos encantos da juventude e sendo a tagarela e hiperativa que todo mundo conhecia em qualquer lugar que eu passava e não mexia comigo essa sua ausência, não sei bem pq.
Hoje, Pai, eu não sei mais quem eu sou, sabe?
O silêncio me adentra cada dia mais, as lágrimas são as únicas coisas verdadeiras por aqui, o amor já não existe mais (só de uma pessoa: a Esther!), as palavras já não conseguem sair e minha vida tá sendo um grande 'empurrar com a barriga'.
Sim, sim, eu sei que você sabe disso tudo, eu te conto a mesma coisa todos os dias, né?
Eu te falei a parte que eu perdi a confiança no mundo, né? É, já ..
Te falei que tenho medo de cumprir (ou não) meu 'papel na terra' e partir a qualquer momento?
Eu não sei muito bem o pq você partiu, nunca me contaram a história, não sei pq, mas eu também nunca perguntei exatamente o que aconteceu.
Todo mundo deixou rolar!
Mas qual foi seu 'papel na terra' que não tinha nele me conhecer? Pq? Pq eu? Meu papel é aguentar isso será?
Era você que me fazia companhia quando eu brincava sozinha quando criança? Eu sentia que tinha alguém ali, mas nunca liguei muito presse tipo de coisa, desculpa se eu não te chamava pra brincar?
Nunca me tocou quando as pessoas falavam: "ah, então vc mora com seu pai, sua mãe .." e eu responder: 'não, então, meu pai morreu..' 'ai desculpa..' .. Pq desculpa? Não foi culpa de ninguém, ué!
Eu tô sendo egoista, Pai, muito! Só falo de mim e dos meus problemas e dos meus vazios e eu e eu e eu .. Desculpa, mas é que tá difícil.
Eu sei q você tá aí vendo eu escrever tudo isso e parando a cada frase pra chorar e na mesma parada me perguntando o pq eu to chorando. Também não sei. Não sei ao certo o que está acontecendo e minha vontade é gritar socorro.
Mas .. não posso!
Essas coisas acabaram no momento que deixei de acreditar nas pessoas. Isso é tão triste e vazio quanto uma morte de alguém querido, pode acreditar.
Nem sei mais o que escrever e como terminar essa carta, mas eu queria um sinal de socorro, sabe? Só um ..
Eu sei que no fundo eu sou uma boa pessoa e que no fundo você deve sentir orgulho de mim em algumas horas (ah, hoje eu fiz meu primeiro purê de batata, amo/sou purê de batata, fiquei feliz por um momento).

'Pai, pode ser que daí você sinta, qualquer coisa entre esse vinte ou trinta longos anos em busca de paz.To tentando, vivendo e pedindo com loucura pra você renascer.Pai, eu não faço questão de ser tudo. Me perdoe essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criança.Eu cresci e não houve outro jeito, quero só recostar no teu peito pra pedir pra você ir lá em casa brincar de vovô com meu filho no tapete da sala de estar.Pai, você É meu herói, meu bandido!'

Com vazio,
Carla Maia.

2 comentários:

  1. acho que não dá nem pra comentar direito.
    eu que nem te conheço e que nem sabia disso, chorei.
    não vou falar que imagino a dor, porque ninguém nunca vai saber...
    um beijo ;*

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  2. denise--mora200@hotmail.com29 de julho de 2011 às 13:08

    Olha Carla, o que vc escreveu me emocionou muito, eu pude conviver com meu poi por 51 anos, foi um pai maravilhoso, paciente, tolerante, ficou cego aos 70anos, pacífico, extremamente bom, ele partiu dia 14 de junho depois de 3mese na uti, eu sabia que iria doer muito, mas não pensei que fosse tão forte a dor, ekle me faz muita falta, só de pensar nele choro, mas agora tenho que cuidar da munha mãe que está bem deprimida e precisando de cuidados, bjos

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