26 de março de 2012

Segunda-feira



Segunda feira de manhã, no ônibus, sentado na janela, avistei um casal de velhinhos, fofos, seus cabelos brancos e finos, com suas peles enrugadas, seus olhos puxados e nenhuma dificuldade pra andar.
Estavam comprando flores, amarelas, um buquê cheio delas e de lá foram caminhando até a entrada do cemitério.
Sem aparência triste, apenas levavam uma lembrança pra quem já se foi.
E na minha cabeça só se passava "pra quem será que são essas flores?"
"É segunda de manhã", pensei, a pessoa era mesmo importante pra eles.
Depois veio "quantos anos será que eles fazem isso?"
Quantas pessoas se vão e são esquecidas?
Eu nunca fui ao cemitério ver alguém, mas a minha cabeça não pára de produzir sonhos, desejos, "e se", e tantas outras coisas de gente que eu conhecia e que se foi.
Esquecer não é comigo.
E nem com esse casal.
Por mais que os anos passem e a memória vai indo embora, eles estão la.

Imaginei e fiquei sentido pensando: "e se for filho(a) deles que está lá?" "do que será que morreu?"
A ordem natural é os filhos enterrarem os pais e não o contrário.

Mas aí tentei ser positivo, otimista e pensar que pode ser o pai ou mãe de algum deles, mesmo sendo triste, a ordem natural não foi rompida e é um pouco mais leve de se levar.

É triste usarmos "basta estar vivo para morrer", tem gente que 'morre' e continua vivo, o sofrimento dessa pessoa é maior ainda.

Mas enfim,
O que será que eles fazem quando, depois de caminhar muito, chegam na frente de onde está apenas a memória da pessoa que se foi?

=*

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